domingo, 17 de julho de 2011

Alfabetização e Letramento: entendendo os conceitos.



Em maio do ano passado, postei na Página Principal um texto sob o título "Emília Ferreiro e a alfabetização!". Este texto está acompanhado de um vídeo no qual a pesquisadora argentina, que revolucionou as idéias de como as crianças se apropriam da linguagem escrita, faz críticas à separação dos conceitos de alfabetização e letramento. Como esta não é uma discussão sobre a qual eu tenha conhecimento suficiente para me posicionar claramente em algum dos extremos, ou mesmo em algum ponto intermediário, prefiro dar voz às "partes envolvidas" no debate, para que o leitor (certamente alfabetizado e letrado) possa construir a sua opinião de maneira mais bem fundamentada.
Os vídeos são bastante esclarecedores e as pessoas que neles aparecem comungam com a idéia de que alfabetizar e letrar são duas práticas diferentes, ainda que indissociáveis, como bem frisou a professora Magda Soares, que aparece no primeiro vídeo, que é um trecho do programa Salto Para o Futuro. Soares também é a autora dos dois livros que recomendo abaixo e que podem situar melhor ainda o leitor neste campo que já conta com uma significativa produção bibliográfica, desde que a Emilia Ferreiro, junto com a Ana Teberoski, lançaram, na década de 1980, o livro Psicogênese da Língua Escrita.
Para quem quiser uma revisão mais "rápida", mas não superficial, sobre o campo, há um link na seção Textos (á direita), que remeterá a um artigo, também da Magda Soares, cujo propósito é recuperar a evolução dos dois conceitos em foco.





Fique letrado:

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Em nome do nome.

O psicólogo espanhol Juan Ignacio Pozo, ao explicar a relação entre a teoria e a realidade, retoma uma interessante metáfora do escritor argentino Jorge Luis Borges, na qual este último relaciona o mapa e o território. Segundo o conto de Borges, houve um império em que os cartógrafos se esmeraram para confeccionar mapas que se parececem o máximo possível com o território a ser por eles representado, até que chegaram a um mapa que coincidia ponto por ponto com o  próprio território. Embora seus autores estivessem satisfeitos, as gerações posteriores se aperceberam da inutilidade de tais artefatos. Um mapa que é idêntico à realidade que ele tenta representar, não atende aos seus objetivos.
Pozo utiliza-se dessa imagem para ilustrar qual o papel da teoria. Ao nos fornecer uma síntese esquemática da realidade - uma abstração - nos ajuda a tomar decisões diante desta mesma realidade, mas em momento algum coincidirá com ela. A ciência nos aponta direções, nos diz quais os caminhos possíveis, quais os mais econômicos, os mais seguros, mas não podemos descartar a nossa necessidade de caminhar para construir aquela experiência que o mapa não é capaz de fornecer. Os horários que engarrafam, qual o melhor roteiro em dia de chuva ou qual via está melhor iluminada por exemplo.
Essa junção entre teoria e prática, ou entre conhecimento científico e experiência pessoal é que deve ser o objetivo de toda formação. Não se pode desprezar nenhum desses elementos. Muito menos, supervalorizar qualquer um deles em detrimento do outro.
Os vídeos sobre alfabetização que foram postados aqui, têm justamente esta característica. A teoria da aquisição da língua escrita, baseada nas pesquisas da Emilia Ferreiro, fornece alguns elementos balizadores da atividade de alfabetização, mas que é complementada ricamente com atividades didáticas que promovem de maneira eficaz o avanço na leitura e na escrita das crianças.
As atividades com o nome, como mostram os vídeos abaixo, são bastante ricas já que além de atenderem ao propósito de alfabetizar, reafirmam a construção da própria identidade infantil.



sexta-feira, 18 de junho de 2010

Receita pronta?!?!

Ao longo desses anos trabalhando com educação, tenho presenciado muitas vezes os “professores da prática” (aqueles que estão nas escolas) questionarem aos “professores da teoria” (os que estão nas universidades), como por em ação aqueles princípios e recomendações contidos nos textos e falas desses últimos. A resposta a essa solicitação é, quase que invariavelmente: “não existe uma receita pronta!”.
Diante disso, fico me perguntando se a educação é realmente a atividade mais complexa que existe. Se tudo que se faz numa sala de aula é tão novo e tão diferente das demais, que nenhum procedimento bem sucedido em uma turma pode – realizando-se os devidos ajustes – ser aplicado em outra. Será mesmo que os professores têm que inventar sempre maneiras novas de lidar com a sua turma atual e descartar essas maneiras assim que finda o ano letivo, pois elas não servirão para os próximos alunos? A minha resposta é um sonoro NÃO!
O vídeo postado abaixo é um exemplo bem didático de como utilizar o conhecimento científico para lidar com qustões recorrentes, constituindo procedimentos objetivos, teoricamente embasados, e que podem ser realizados nos mais diversos contextos por professores alfabetizadores e cuja probabilidade de êxito é bastante significativa.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Aquisição da escrita.

"Não é possível saber se algo não está funcionando bem, se não conhecemos o seu funcionamento normal". Quem passou pelas minhas disciplinas já me ouviu repetir essa frase algumas vezes.
A aquisição da linguagem escrita, tal como descrita por Emília Ferreiro, é um bom exemplo de como a teoria pode nos ajudar a compreender a realidade, para além das aparências. Diante da hipótese silábico-alfabética, em que as crianças alternam a escrita de sílabas completas com a grafia de uma letra para cada som que distingue na formação das palavras (sílabas), as professoras costumavam (e ainda costumam) dizer que seus alunos e alunas estavam "comendo" letras. Esse tipo de produção era visto como um retrocesso na aprendizagem infantil e, quase sempre, vinha acompanhada de reclamações e castigos por parte das professoras.
Por meio das suas pesquisas, dentro do quadro teórico piagetiano, Emilia Ferreiro demonstrou que, o que parecia um retorno a uma forma mais precária de escrita, era, na verdade, um avanço em direção à chamada hipótese alfabética, na qual o alfabetizando já compreende que uma sílaba pode ser formada por mais de uma letra.
Essa mudança de perspectiva, graças às formulações teóricas, faz com que as professoras (e professores) possam incentivar seus alunos e alunas a continuarem progredindo e, com isso, obterem resultados mais expressivos quanto ao domínio da escrita, por parte de seus educandos.
Os vídeos postados abaixo trazem a prof. Telma Weisz, autora do livro que aparece acima, dando uma importante contribuição para quem quiser compreender mais sobre essa etapa crucial da inserção no mundo letrado e escolarizado.